quarta-feira, 16 de setembro de 2009

VENDAVAL

Que o amor ande sempre ao lado do silêncio, que ele se aparte de vez de qualquer palavra que possa ser futuramente usada contra ele mesmo,
que se afaste dos vários sorrisos, ensaiados e imprecisos,
que se exclua da convivência dos faltosos e que da mesma maneira não ande com os que sempre estão presentes, por que com eles acontece que, serão como povoados fantasmas, diante do amor, e já não haverão vozes, ruídos e arrastar de correntes.
Que o amor ande calado e ensimesmado, de olhos vendados e asas cortadas, para que já não alcance o juízo equivocado que fazem a seu despeito, para que já não veja o punhal que enfiarão nas suas costas a revelia, para que não engula as palavras que colocarão falsamente na sua boca, proliferando vozes que nunca existiram,
Que o amor ande somente ao lado daqueles que não o compreendem, mas que o aceitam mesmo sem compreender, por que os que afirmam conhecê-lo já o entregaram por 30 moedas de prata, ou por coisa nenhuma,
Que o amor ande, por fim, contrito, enlutado, descrente, desconfiado, ferido e bem atento às cicatrizes que o marcarão após a passagem do vendaval, para que ele nunca esqueça que será traído, dormindo tranquilamente com o inimigo, que cortará suas asas, ao invés de queimá-lo, acreditando que assim ele nunca mais irá a parte alguma,
Que o amor, então, aguarde o juízo final do tempo, que nunca engana, e possa levantar a cabeça e sacudir a poeira e inventar novas asas e tentar, quem sabe, o seu voo mais alto. E que o amor, mesmo em meio a dor, nunca largue o meu braço.
Waleska Dacal
"(...)O amor não pode conviver com a suspeita."
(Do mito de Eros e Psique)