terça-feira, 5 de julho de 2011

o segundo inverno...

“Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente”..

(Caio Fernando Abreu)

Vou abrindo assim uma pausa qualquer no silêncio da noite, lá fora cai uma chuvinha resistente, e eu tento agradecer aos dias e noites que fizeram esse inverno ser diferente do último que passou e que foi tão frio, mas eu não senti por que na minha lembrança eu só guardei o calor da sua presença ao meu lado.

O que foi tudo aquilo? Me pergunto agora. E não encontro registros nesse imenso vazio que me dá, por vezes, a impressão de que não fui marcada pela sua passagem, e que tudo no final foi tão superficial que, suspeito, não senti qualquer dor, mas sei que doeu!

Doeu pelas expectativas que foram nascendo, doeu por que tudo que é muito novo às vezes requer muito espaço pra crescer, e sai rompendo paredes, muros de contenção, represas, diques, feito rio que por força da vontade humana (por que não cabe aqui falar em destino) é desviado do seu caminho e da sua natureza que é morrer no mar.

Tenho voltado a escrever coisas, catarseando, me despindo, talvez até me reencontrando, nesse expulsar de sonhos, e abraçando com força a realidade.

Sigo apenas o impulso que me faz despejar em palavras os tons finais do que eu nem mesmo consigo entender, sobre o que ainda sinto, dessa maneira que sinto.Chego a me perguntar se realmente permaneço com o mesmo grau de sensibilidade, ou dessa vez a couraça que me envolve e me protege criou tamanha espessura, que me deixou assim em dúvida se esse tanto que eu te quis foi de verdade!

Waleska Dacal

“Acredito nos olhos de quem está apenas observando, aprendendo, sem julgamento. Acredito que existe um lugar para mim, assim como existe lugar para todo mundo. Porque existe lugar para todo mundo. É só procurar... Eu acredito. Acredito no tempo. O tempo é nosso amigo, nosso aliado, não o inimigo que traz as rugas e a morte. O tempo é que mostra o que realmente valeu a pena, o tempo nos ensina a esperar, o tempo apaga o efêmero e acaba com a dúvida."

(Caio Fernando Abreu)

domingo, 3 de julho de 2011

Ao som de Belchior...

Um silêncio enclausurado, muitas vezes, exerce mais efeito que qualquer forma de interlocução, só não consegue ser mais esclarecedor que o brilho de um olhar dentro de outros olhos, por isso, caros leitores, convém, vez por outra, exercitarmos um certo distanciamento de tudo aquilo que nos envolve sem ter permissão, tudo aquilo que nos invade, sem se fazer perceber, que nos transtorna sem que, por certo, possamos definir usando grandes e definitivas nomenclaturas...

Estava aqui ouvindo um pouco de Belchior, com aquela voz rouca a repetir que o novo, o novo, o novo sempre vem...O NOVO SEMPRE VEM!

E não quer saber se vai nos pegar de saia justa muito menos se nos preparamos para reinventar ou redefinir velhos nomes para as coisas que sentimos, enfim, fiz uma pequena pausa nos meus pensamentos toscos de hoje para deixar aqui expresso, ainda que confusamente, o meu perceber, o meu indagar, o meu ãnh, como assim??? Em perceber brechas, portas, janelas, abertas dentro do meu coração, e levar um susto tremendo em constatar que entrou uma pessoa diferente dentro dele, só não descobri ainda o que fazer com isso...

Waleska Dacal

"Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos"...

(Belchior)