Acostumada a ver o mar pela janela,
eu me encantei com o sussurro do vento e o barulho das ondas,
melodia familiar como o som da sua risada,
mas do lugar onde sempre estive, sem tocar os pés na areia,
eu sentia o cheiro que a maresia trazia e que eu decorei,
sem jamais desviar o olhar do mar.
Acompanhei cada maré,
como quem partilha diálogos profundos,
ora ruidosos, ora amenos,
daqueles que alimentam nossas esperanças no que não é tangível,
e aprendi, com as marés mortas,
que o mar ensaia seus próprios monólogos quando está em silêncio.
Não ousei atravessar a janela,
prisioneira do meu olhar,
essa vidraça que tantas vezes embaçou o meu espírito,
não toquei os meus pés na areia,
nem quando o sol esteve quente, nem quando a lua refletiu nas águas,
apenas abri a janela, num convite sincero de que o mar entrasse,
talvez lentamente, quem sabe, numa tormenta,
até o dia em que percebi, naquela contemplação, que eu mesma era o mar,
entre marés tantas e sai da janela,
por que eu entendi que bonito mesmo é quando o mar recua.
Waleska Dacal Reis
19.12.2014
"Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar, meu coração tropical partirá esse gelo e irá"...
(João Bosco)
Imagem: Maragogi-Alagoas.
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