sábado, 25 de agosto de 2007

Talvez exista um denominador comum entre morrer, chorar e escrever.
Talvez exista uma outra medida extrema além da morte que me parece tão mais confortável que o meu choro imprevisto.
Lembro que eu chorava tanto antigamente, chorava de alegria, chorava de tristeza, mas chorava no tempo em que em mim ainda chovia.
Hoje eu virei terra seca,
no lugar que sempre plantei minhas ilusões não nascem, sequer, ervas daninhas, é solo pedregoso, árido, sem resquícios de qualquer vã esperança, só um terreno arado por dor e mágoa e um retrato do riso bobo que eu tinha - espantalho afugentando a ingenuidade - ou qualquer traço sutil de certeza, que porventura, sobrevõe o meu espírito.
Tenho esse jeito esquivo, vez por outra, que é pra me reconhecer depois de tudo, por que a tempestade já passou faz tempo, mas desfigurou pra sempre a minha imagem.

(...)

Eu tinha mais coragem antigamente
tinha mais disposição para acreditar,
tenho hoje o cansaço de uns duzentos anos, sem chorar, sem dormir,
não esquecendo nunca.
Houve um tempo em que tudo era tão perfeito,
a casa, a luz, o movimento,
não faltava nada, eu tinha uma identidade que era mais concisa,
e que hoje vejo toda em fragmentos.
Cadê o riso forte do meu pai?
-qual foi o filme?
Cadê a alegria da minha mãe?
-nem sei se lembro...
O pior castigo na lembrança é não ser perecível o pensamento,
é jamais poder acorrentá-lo,
é jamais, sequer, amordaçá-lo, com a sua boca de lâmina afiada.
O pior castigo da lembrança é saber que depois de muito tempo,
só ela vai ficar, mais nada!

(...)

Passei muito tempo esperando viver,
sem entender que tudo ao meu redor já era vida,
a oscilação entre a dor e a alegria,
entre o ter que crescer para além dos meus limites físicos.
Penso que deva ser por isso que o meu corpo pequeno,
tantas vezes não suporte esse tão grande enfisema que tomou conta da minha alma.

Waleska Dacal 25-26/03/04

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