Caminhava,
caminhava, alheia às curvas do caminho,
Cabeça baixa, rosto sereno, só falava quando por um acaso lhe dirigiam alguma pergunta, mas o tom da voz era sempre o mesmo, distante e um tanto evasivo, vez por outra olhava para atrás como que a conferir se, no último instante ele se atrevera a andar junto a ela, mesmo que soubesse, tinha lá consigo mesma, que para isso seria preciso mais que coragem, seria quase uma profissão de fé.
Não era nem romaria, mas os poucos que seguiam junto a ela, tentavam entoar algum canto que espantasse o silêncio, ou, ao menos, arrancasse dela algum sorriso, mas ela continuava distante, perdida em algum pensamento no qual tivesse a lembrança de estar menos triste, ou mais alegre quem sabe. Naquele lugar-comum, onde havia se acomodado, esperando, pouca diferença fazia estar alegre, ou triste, bastava, talvez, permanecer confiante, com aquela certeza que existe em tudo o que vive, e nessa esperança, exercitar a paciência, a compreensão, o respeito, a tolerância, e outros sentimentos nobres, numa tentativa sublime de superação e compassividade.
Caminhava, porque tantos sois contara, tantas noites, que passou a lembrar dos dias pela sensação que tinha deles, entre calor e o frio, entre aguadouros e estiagens, não media o tempo pelos dias, semanas, meses, que diferença fazia? Contava o tempo pela sensação de seca que sentia por dentro, numa ausência total de lágrimas, que molhassem, vez por outra, as agruras da paisagem por onde seguia, ainda que insistisse em olhar para atrás como que a se enganar que no último instante, ali bem distante, ele estivesse vindo, acenando, sorrindo em poder dividir o deserto medonho que também o assombrava em seu silêncio.
Waleska Dacal
"o que você demora é o que o tempo leva"
(Adriana Calcanhoto)
imagem: assdeusengenhodentro.blogspot.com
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