domingo, 3 de fevereiro de 2008

CORPO FECHADO


(...)Ela queria raspar a cabeça
pra feitura do santo,
se jogar no mar,
se trancar num canto,
até tirar resguardo,
depois cantar um ponto,
se manifestar,
cantar, cair, rodar
até se alegrar
e curar o quebranto,
sarar as feridas,
estancar o pranto.
WDR
23.12.00
Senhora das Tempestades*

Senhora das tempestades e dos mistérios originais
Quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo.
Trazes a assombração, as conjunções fatais
E as vozes negras da noite, Senhora do meu espanto e do meu medo.
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
Há uma lua do avesso quando chegas
Há um poema escrito em página nenhuma.
Quando caminhas sobre as águas, Senhora dos sete mares.
Conjugação de fogo e luz e, no entanto, eclipse
Trazes a linha magnética da minha vida
Senhora da minha morte, quando tu chegas
Como essa música, Senhora dos cabelos de alga
Onde se escondem as divindades Trazes o mar, a chuva e as procelas
Batem as sílabas da noite, Batem os sons, os signos, os sinais
E és tu a voz que dita
Trazes a festa e a despedida
Senhora dos instantes, com tua roda dos ventos
E teu cruzeiro do sul
Senhora dos navegantes com teu astrolábios
E tua errância
Tudo em ti é partida, tudo em tu é distância
Tudo em ti é retorno, Senhora do vento
Com teu cavalo cor de acaso,
Teu chicote e tua ternura
Sobre a tristeza e a agonia.
Galopas no meu sangue com teu cateter chamado Pégaso
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos.
Quando tu chegas dançam as divindades
E tudo é uma alquimia
Tudo em ti é milagre
Senhora da energia.
**Texto extraído do poema Senhora das tempestades, de Manuel Alegre,Cd “Diamante Verdadeiro”/interpretação de Maria Bethânia

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