domingo, 10 de fevereiro de 2008

Dique (Ou, menção honrosa ao De Profundis!)


Foi algo como represar um rio, só para vê-lo passar muitas vezes pelo mesmo lugar,
fechando atrás de si todas as comportas, para deixá-lo descobrir novos dissabores
ao se debater nas velhas pedras,
a investidura no contato com a rocha fria, moldando novos sulcos, descobrindo outras reentrâncias, no calor do sol ou na sofreguidão do lodo.
Foi como aquecer a alma fria, no limiar de uma brasa ardente,
fogueira já não era, estava quase morta,
de sede, de cansaço pela espera,
que desafio imenso era sorrir daqui pra frente,
apagando algum vestigio da correnteza que passara,
deixando para atrás os sonhos,
feito peixes mortos, apodrecendo sem saciar qualquer tipo de fome.
Foi como proferir preces inaudíveis
no interior de uma caverna muito escura,
repleta de uma solidão e de um abandono
que faria chorar as coisas mais tristes...
Foi como interditar um dique,
na desculpa qualquer de consertar os velhos muros que o aprisionava,
e deixar a água evaporar,
secar, apodrecer, mesmo tendo tanta sede!
E do ponto mais alto da sua solidão
ver agonizar lentamente,
e morrer lentamente o velho rio,
ferido pelas pedras,
sonhando com o mar!!!

WDR

..."E deixo pra depois o que eu tinha que fazer, o destino aceito sem dizer sim ou dizer não, sem entender"...
(Ana Carolina - O Rio).


"Encontro, algures na minha natureza, alguma coisa que me diz que não há nada no mundo que seja desprovido de sentido, e muito menos o sofrimento. Essa qualquer coisa, escondida no mais fundo de mim, como um tesouro num campo, é a humildade. É a última coisa que me resta, e a melhor (...). Ela veio-me de dentro de mim mesmo e sei que veio no bom momento. Não teria podido vir mais cedo nem mais tarde. Se alguém me tivesse falada dela, tê-la-ia rejeitado. Se ma tivessem oferecido, tê-la-ia rejeitado (...). É a única coisa que contém os elementos da vida, de uma vida nova (...). Entre todas as coisas ela é a mais estranha (...). É somente quando perdemos todas as coisas que sabemos que a possuímos".

(Oscar Wilde, in "De Profundis")

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