sábado, 3 de dezembro de 2011

CIDADE FANTASMA

Não, não fui eu não, eu apenas assisti a tudo pelo espelho,

Vi a ferrugem corroer os trilhos,

Vi a poeira apagar o caminho,

Vi o deserto consumir toda a água necessária para que houvesse o choro,

e não houve choro!

E nem mesmo ouviram-se vozes, nem ranger de dentes.

Mas, não fui eu! Eu estava aqui sentada,

ouvi quando ruiu a primeira e a segunda pilastra de sustentação,

Senti quando estremeceram - se as bases que foram construídas,

Mas permaneci imóvel, expectadora passiva,

Conformada até - eu pressentia que em algum momento aquilo tudo viria abaixo -

Mas não me lamentei!

Permaneci sentada olhando do espelho!

Não percebi os escombros, talvez pela distância,

Nem mesmo a poeira causou-me algum dano,

Não ouvi também nenhum barulho!

Nem mesmo quando a cidade fora sitiada

E a ordem aos sobreviventes era de que abandonassem as suas casas,

As suas crenças, ou qualquer outra garantia,

De segurança, de conforto, de fidelidade...

Mas, não fui eu não, eu só não desconfiei,

Nas vezes em que me vi perdida ali, a esmo,

Que aquelas placas cobertas de fuligem escondiam o mesmo aviso:

CIDADE FANTASMA!

Waleska Dacal

(03.12.2011)

...é que Dezembro trouxe-me, de volta, as palavras!

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