domingo, 3 de junho de 2007

"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio,
que a morte de tudo em que acredito,não me tape os ouvidos e a boca,
pois metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza,
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante,
porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento,
porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada,
porque metade de mim é o que penso e a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável, que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância,
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba,
e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer,
porque metade de mim é platéia e a outra metade é a canção.
E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
e a outra metade também." (Oswaldo Montenegro)
(...)

"Confesso acordei achando tudo indiferente,
Verdade acabei sentindo cada dia igual.
Quem sabe isso passa, sendo eu tão inconstante,
Quem sabe o amor tenha chegado ao final.
Não vou dizer que tudo é banalidade,
Ainda há surpresas, mas eu sempre quero mais!
É mesmo exagero ou vaidade,
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz.
Não vou pedir a porta aberta é como olhar pra trás,
Não vou mentir nem tudo que falei eu sou capaz,
Não vou roubar teu tempo eu já roubei demais.
Tanta coisa foi acumulando em nossa vida,
Eu fui sentindo falta de um vão pra me esconder.
Aos poucos fui ficando mesmo sem saída,
Perder o vazio é empobrecer.
Não vou querer ser o dono da verdade,
Também tenho saudade, mas já são quatro e tal,
Talvez eu passe um tempo longe da cidade,
Quem sabe eu volte cedo ou não volte mais."

(Ana Carolina-Confesso)


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