domingo, 20 de abril de 2008

A Última Pedra

Há certas coisas que antecipam o fim,
uma placa,
uma palavra,
um minuto de silêncio.
Há certas coisas que vão ficando ao longo do caminho,
como as cantigas tristes das carpideiras,
com seus mantos negros,
sob o sol ou a chuva,
a ensaiar as mais solenes despedidas requisitadas pela morte.
Há certas coisas que antecipam o fim,
como as normas técnicas de redação exigidas pelos concursos,
que limitam qualquer assunto a um espaço de 30 linhas e mais nada,
e assim, em poucas palavras e de forma lógica e racional,
você tem que dizer tudo que pensa a respeito,
mesmo sem ter tido tempo de entender muita coisa!
Há fins sem começo,
sem meio,
sem mas,
sem porém.
Há, também, aquele entremeio que antecipa o fim,
antecipa a dor,
o gozo,
o gosto
e a vontade,
Há um desespero qualquer, ensimesmado e triste,
que se adianta, antes de uma grande agonia,
ou de um forte desejo que se vai negando.
Há certas coisas que antecipam o fim,
como as longas cartas nunca enviadas,
os textos escritos e engavetados,
as fotos que vão amarelecendo,
a lembrança de um riso,
o tom da voz,
o ritmo, entre um silêncio e outro,
um sentimento e outro,
uma distância e outra.
Há certas coisas que antecipam o fim,
como as explicações prévias,
alguns ensaios,
as muitas incertezas que vão se juntando,
uma pedra no meio do caminho,
intransponível,
medonha,
mesquinha e muito triste,
antecipam o fim do que podia ter sido,
como a última pedra em cima do assunto.

Waleska Dacal.

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