quarta-feira, 30 de abril de 2008

EPICENTRO

Volver ao foco, ao meu epicentro,
vontade mesmo de escrever só pra mim,
me procurando por entre essas linhas tortas e que vão se amontoando dando vazão às coisas que sinto.
Fui me perdendo entre um silêncio e outro,
deles fiz até uma cantiga de estranhas notas, graves, fúnebres,
canção de um amor maior, ou despedida,
vasculhei as interlocuções do que não disse,
como subtraindo de mim mesma qualquer poesia,
e me devolvi tudo, o gosto, o improviso,
por que nada em mim é pouco, nada em mim é ameno,
e depois, depois de tudo olhei, demoradamente, para o espelho
(...)
tem mais de mim nessa subjetividade,
do que em qualquer prosa ou poesia que eu possa escrever explicitamente,
é que eu não gosto do óbvio,
gosto é quando se permitem - E POUCOS O FAZEM!
descobrir quem eu sou, antes que eu me canse da minha própria insistência em mostrar-me,
e perca o encanto!

WDR


Vou dando essa semana por encerrada, e faço uso das palavras de Hilda, pra fortalecer o meu canto:

Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.
(Hilda Hilst- Cantares do sem nome e de partida)

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