Hoje amanheci desperta, insone!
Dias e mais dias sem sair de casa, tô deprimida!
"Chove lá fora e aqui faz tanto frio"...
Fico improvisando algo que me anime,
mas fica sempre a sensação de esboço mal acabado.
A casa inteira para arrumar seria um bom começo,
mas tô tão sem energia!
Tudo o que eu mais quero nesse momento é que a Wanina fique boa!
Essa parte da maternidade eu ainda não consigo assimilar muito bem,
ficar vendo o meu bebezão tossindo, tossindo, abatida.
olho pras paredes do apartamento, elas silenciosamente olham para mim também,
tomo meu café, gênero de primeira necessidade,
olho pra minha estante, meus livros que eu amo, outros objetos que eu tolero
e alguma coisa nessa cena que vejo me lembra umas fotos que vi do escritório de Ferreira Gullar,
tem uma familiaridade, não sei se pela bagunça constante, sinal evidente de que os livros que lá se encontram são realmente lidos e relidos, sim, por que uma estante toda arrumada é no mínimo estranha, me dá a sensação de que os livros que lá estão dormem profundamente, encantados pelo tempo!
Não sei, se pelos fortes indícios de que há gatos na casa, as vasilhas pelo chão com leite, ração água, não sei se pela foto mesmo do Ferreira, ensimesmado, taciturno, não sei!
Só sei que ando procurando em tudo a poesia, o gosto pela fala, e até pelas coisas não proferidas.
Tenho, frequentemente, revisitado a dor, na tentativa de compreendê-la, passo horas observando-a, nas suas mais diferentes nuances, ora em mim, ora nos que estão a minha volta, e costumo observar esse fenômeno oscilante que sempre antecede e sucede a alegria, moldando novos vincos no que se diz humano, não sei, não sei!
Ao que tudo indica vou passar o dia hoje filosofando, meu Deus, eu penso demais! O ministério da Saúde devia lançar uma campanha de ampla divulgação: PENSAR É PREJUDICIAL À SAÚDE!
E, enquanto eu não me encontro, nem me subscrevo dando uma nova ordem a esse novo dia, vou ler um pouco de Ferreira Gullar, tomar mais café, acariciar um gato, depois outro gato, e mais outro e outro e outro! Esperar que o meu bebê acorde, fazer a comida da minha tartaruga, que agora aprendeu (sabidinha ela!), toda vez que está com fome vem morder o meu pé!
e vou ficar por aqui, quem sabe tentando convencer aos que dizem que eu sou um tanto excêntrica, de que sou uma pessoa comum, cheia de desejos comuns, agraciada com amigos incomuns e com uma capacidade de sentir compatível com a minha, caso contrário não seriam meus amigos, e vou brindar a Gullar, com uma caneca de café, e tenho dito!
Waleska Dacal
Do mesmo modo que te abriste à alegria
Dias e mais dias sem sair de casa, tô deprimida!
"Chove lá fora e aqui faz tanto frio"...
Fico improvisando algo que me anime,
mas fica sempre a sensação de esboço mal acabado.
A casa inteira para arrumar seria um bom começo,
mas tô tão sem energia!
Tudo o que eu mais quero nesse momento é que a Wanina fique boa!
Essa parte da maternidade eu ainda não consigo assimilar muito bem,
ficar vendo o meu bebezão tossindo, tossindo, abatida.
olho pras paredes do apartamento, elas silenciosamente olham para mim também,
tomo meu café, gênero de primeira necessidade,
olho pra minha estante, meus livros que eu amo, outros objetos que eu tolero
e alguma coisa nessa cena que vejo me lembra umas fotos que vi do escritório de Ferreira Gullar,
tem uma familiaridade, não sei se pela bagunça constante, sinal evidente de que os livros que lá se encontram são realmente lidos e relidos, sim, por que uma estante toda arrumada é no mínimo estranha, me dá a sensação de que os livros que lá estão dormem profundamente, encantados pelo tempo!
Não sei, se pelos fortes indícios de que há gatos na casa, as vasilhas pelo chão com leite, ração água, não sei se pela foto mesmo do Ferreira, ensimesmado, taciturno, não sei!
Só sei que ando procurando em tudo a poesia, o gosto pela fala, e até pelas coisas não proferidas.
Tenho, frequentemente, revisitado a dor, na tentativa de compreendê-la, passo horas observando-a, nas suas mais diferentes nuances, ora em mim, ora nos que estão a minha volta, e costumo observar esse fenômeno oscilante que sempre antecede e sucede a alegria, moldando novos vincos no que se diz humano, não sei, não sei!
Ao que tudo indica vou passar o dia hoje filosofando, meu Deus, eu penso demais! O ministério da Saúde devia lançar uma campanha de ampla divulgação: PENSAR É PREJUDICIAL À SAÚDE!
E, enquanto eu não me encontro, nem me subscrevo dando uma nova ordem a esse novo dia, vou ler um pouco de Ferreira Gullar, tomar mais café, acariciar um gato, depois outro gato, e mais outro e outro e outro! Esperar que o meu bebê acorde, fazer a comida da minha tartaruga, que agora aprendeu (sabidinha ela!), toda vez que está com fome vem morder o meu pé!
e vou ficar por aqui, quem sabe tentando convencer aos que dizem que eu sou um tanto excêntrica, de que sou uma pessoa comum, cheia de desejos comuns, agraciada com amigos incomuns e com uma capacidade de sentir compatível com a minha, caso contrário não seriam meus amigos, e vou brindar a Gullar, com uma caneca de café, e tenho dito!
Waleska Dacal
Do mesmo modo que te abriste à alegria
Abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela e seu avesso ardente.
Do mesmo modo que da alegria foste ao fundo
Do mesmo modo que da alegria foste ao fundo
e te perdeste nela e te achaste nessa perda
deixa que a dor se exerça agora sem mentiras
nem desculpas e em tua carne vaporize toda ilusão
que a vida só consome o que a alimenta.
que a vida só consome o que a alimenta.
(Aprendizado- Ferreira Gullar)
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