quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Beijim, beijim, tchau, tchau!!!

Amor não é pra qualquer um não,
tem gente que passa a vida inteira repetindo eu te amo,
pra inúmeras pessoas,
umas que chegam sem aviso, outras que nada acrescentam,
umas que nem se mostram de perfil(que dirá por inteiro),
outras que fingem ser tantas pessoas distintas ao mesmo tempo que, no apagar das luzes,
deixam você com a sensação de que acabou de sair de uma orgia, de sexo não, de sentimentos!
Confusos e mal declarados.
O que muita gente não sabe, não compreende, é que o amor, por mais que demore a chegar- tem quem passe uma vida inteira esperando amar alguém -quando chega, dificilmente abre mão do espaço ocupado, não importa a tormenta que o venha abalar, estremecer.
é bíblico, o amor tudo crê, tudo suporta!
ama-se 'por que', e 'apesar de',
ama-se sem grandes explicações,
sem nenhum retorno,
ama-se por que a força motriz que rege um amante - amante na condição pura daquele ama - é capaz de modificar o mundo!
ama-se ele, ela, uma causa, um ideal,
ama-se um irmão, um irmã, um amigo, uma amiga, um gato, um cachorro, ou qualquer outra manifestação que seja digna de amor, mas ama-se também o que não é digno de amar, e essa faceta do amor lhe rendeu ao londo dos séculos a insígnia de cego.
Alegorias a parte, e de olhos abertos, bem abertos, quero levantar um brinde ao amor, vivo, silencioso, puro, sincero, discreto, paciente, verdadeiro, profundo, perene,
aquele que ama 'apesar de', e 'por que', e 'ainda assim' e 'até sempre!'
Um brinde a sua infinita capacidade de atração, pois não conheço ninguém que tenha doado amor e ficado mais pobre, sobretudo de espírito.
Mas quero, levantar um brinde, principalmente àquelas pessoas que acreditam que amando, na vibração constante do amor puro e verdadeiro, serão capazes de conseguir tudo aquilo que acreditam!Bom, são essas raras e caras pessoas que são capazes de mudar o mundo!
Que 2009 distribua amor nos corações que ainda não o conhece!
Fui, querido diário! beijim, beijim!
Waleska Dacal

domingo, 21 de dezembro de 2008

Cárcere Privado

Vale mais a minha ausência que a minha presença,
O meu silêncio, mais que qualquer palavra que já tenha dito,
A minha inação, a minha imobilidade,
A ausência total de qualquer gesto.
Vale mais o meu fechar de olhos,
De ouvidos,
A minha recusa por qualquer manifestação gratuita de afeto seu,
Tão escasso,
Tão raro, e que assim, repentinamente, tentas trasbordar numa explosão de sentimentos
Reprimidos, engavetados, e que, por favor, eu já nem quero ouvir.
Vale, por fim, o meu distanciamento,
Um improviso qualquer de um esquecimento profundo,
Que venho ensaiando repetidas vezes,
Sem nenhum domínio, nem certeza,
A espera de te libertar desse cárcere privado, lá dentro de mim,
Onde te prendi, sem que nada tenhas feito.
Vale mais esperar o julgamento do tempo,
Sobre as minhas próprias escolhas,
Esperar que ele vasculhe de vez meus sentimentos,
Escute todas as vozes, e atue como o juiz severo e justo
Que espero que ele realmente seja,
Quem sabe, com sorte, ele me isente dessa pena, desse padecer
Constante, que é ter que despertar todos os dias e ver que você ainda
Continua dentro de mim,
E por mais que eu abra portas e janelas, no mais sublime dos meus esforços,
Ter a constatação cruel de que você- como se estivesse num presídio de segurança máxima- não passa,
Não passa,
Não passa!


Waleska Dacal

20.12.08

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

SURPRESA!!!!

Tá lá,
é perene,
existe, é profundo!
Não cabe em palavras,
mas nem sempre é mudo!
se esconde de um jeito
que nem eu reconheço,
se cala, que, às vezes,
penso que esqueço!
Adormece,
se tranforma,
se alimenta do tempo,
assume tantas formas,
que nem eu entendo,
mas, tá lá,
sempre lá,
tem você, lá dentro!!!

Waleska Dacal

"More than words"

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Acordes dissonantes


Eu gosto mesmo é de colecionar rolhas de vinho!

(...)

Talvez um analista me ajudasse a decifrar esse enigma,

talvez que eu descobrisse com ele um mimetismo qualquer na mesma extensão dessa minha estranha mania,

não canto no banheiro, quer dizer, raramente eu canto!

odeio futebol,

não curto barbitúricos, excitantes, nem tranquilizantes,

não curto 'caretas',

amo especiarias!

Gosto de colecionar rolhas de vinho, assim como gosto de colecionar algumas lembranças,

boas, ou não, por respeito ou reconhecimento da minha própria fraqueza em aniquilá-las,

pela lanterna que elas acendem no nevoeiro taciturno da minha solidão acompanhada.

Gosto de escutar Nina Simone,

Nina Simone, talvez, seja de longe um dos meus maiores incentivos a uma seleta coleção de rolhas de vinho, que, por fim delimitam,num mapeamento interior a minha alma,um pouco do sabor do mundo!

Graças a Deus nunca mais ouvi vozes(rs)

(meu amigo analista precisa ouvir isso!)

o que, entre graves acordes dissonantes, me parece de perto um problema de significativa relevância!

Perdi uma coisa qualquer da suavidade que tinha antes,

ganhei uma descrença medonha acerca daquilo que antes julgava, religiosamente, com profissão de fé!

Hoje, com o alcance limitado da minha visão, enxergo apenas o pau oco, a esconder tudo aquilo que pra mim tinha um valor quase santo.


Mas, enfim, querido diário, nem sei por que hoje me bateu essa vontade confusa de invadir o seu divã com as minha confusas revelações, tão intimistas.

Parece-me, um tanto provocador assumir assim esse fetiche por rolhas de vinho(queira Deus, que essa faceta da minha personalidade não revele um grave desvio de conduta).

Deixo-te, além das impressões que aqui me configuram,
uma caracterização qualquer do meu silêncio erudito,

entre palavras que só eu entendo,

entre constatações que sem querer registro,

entre desesperanças, desilusões e utopias,

que matematicamente exercito, colecionando rolhas de vinhos,

devo acrescentar: BONS VINHOS!!!



(...)

SALUT, MON AMI!

HASTA LA VISTA!

WDR

"Adoro, sei lá por que, esse olhar meio escudo, que invés do meu álcool forte pede água perrier!"(Adriana Calcanhoto)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

insígnia!

a ti,
nem a mim,
nem a niguém direi,
quem mais saberá pela minha boca o que eu sinto?
Quem mais terá o prazer de sorver com longos tragos a minha esperança,
o meu cantar ou desencantamento?
Deixo que sigam assim a palo seco,
delimitanto meus milimétricos gestos,
esperançosos pelo cair de uma vírgula,
agora o meu querer é meu,
irá comigo ao túmulo quando chegada a hora,
assim como irão também os meus medos,
minhas alegrias,
minhas mágoas, meus maiores ressentimentos.
de contrapeso, a insígnia inscrita na lápide fria
que guardará junto com a imagem distante do meu rosto
a inesquecível frase:

Partiu sem dizer se vai sentir saudades!!!!


E tenho dito!

Waleska.

domingo, 12 de outubro de 2008

Amálgama


Formou-se de outra matéria que não a minha,
pedra dura,
mas em sigilo temperas com sofreguidão
a amálgama do teu sorriso, com gestos polidos
silêncios rudes,
e desse cabimento, misturas o concreto
e a argamassa que te faz parecer comigo,
no divagar dos meus sonhos
e dos meus ressentimentos.
Insistes, assim, em inventar antigas vozes,
que te despertam do porão bolorento
das tuas lembranças,
e ensaias novos rumos, no vão sem destino,
dos teus passos,
enquanto eu, só, tento me acostumar com o teu silêncio,
por vezes, penso até que estou me moldando,
a escassez dos teus gestos, do teu buscar por mim.
E assim, apesar das matérias distintas que vão nos formando,
eu sigo, a cada dia na minha natureza de rocha,
que vai sendo modelada com o tempo,
enquanto que você vai misturando, ao sal das lágrimas,
o cimento que esperas que vá te fortalecendo,
evidenciando, ainda mais, a nossa distinta semelhança.


Waleska Dacal Reis

"Eu pertenço a raça da Pedra Dura!" (João Bosco)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

AO MEU MAIOR SORRISO!

Demorou tanto, mas encontrei o que eu queria,
tento não ver, chego a fingir que é engano,
mas ando rindo e pervagando sem destino,
sorriso bobo, acho até que estou sonhando!
Há quem perceba pelo limiar do meu sorriso,
essa coisa boa, um jeito assim que se adivinha,
e mesmo só, seguindo só
ou atravessando a rua,
pode-se ver que eu já não ando mais sozinha...

é, mas demorou tanto!

(...)

(o meu maior sorriso!)


(Waleska Dacal)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Último segundo

Faltou poesia, faltou!
Faltou o fato, aquele que arrancaria de mim a palavra certa,
em pequenas doses, diria até homeopáticas,
curando as lacunas que deixei aqui dentro.
Faltou um indício qualquer daquela esquina onde deixei escondidos o meu tormento, a minha sofreguidão e aquela angústia,
que só sente quem perdeu o último segundo, do último minuto, deixando para atrás sonhos e divagações, malas e esperanças.
Faltou também alegria,
mas não sobrou tristeza,
caso contrário eu teria encontrado a poesia por entre as coisas tristes,
mas o espaço ocioso que tento descrever agora,
se despreende,
se amplifica por si só, como a projeção da sombra,
para além de meus limites físicos.
E faltou também deixar escrito qualquer coisa,
uma linha qualquer que me fizesse entender no futuro
que apesar de...ainda se vive
que apesar de... e apesar de... aos poucos a poesia vai se reinventando,
meio que de improviso,
mesmo sem muita certeza,
e foi justamente por isso que deixei escapar, assim, essas palavras,
que no futuro irei ler, quem sabe?
com o meu melhor sorriso!


(...)Procuro, procuro e me espanto: dentre os destroços muita coisa já não encontro,
mas, é incrível como não perdi a esperança!


Waleska Dacal


"No dia em que eu fui mais feliz, eu vi um avião"...
(Adriana Calcanhoto)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A banda

Quando o inverno chegou eu senti frio,
fiquei triste,
como um cão que perdeu seu dono,
seu osso,
seu rabo.
Quando o corpo passou, eu vesti luto,
fiz silêncio,
greve de fome e não tive fome,
nem medo.
Quando o vendaval passou levando casas,
destruiu sonhos,
alguns não dormidos, por falta de sono.
Quando a dor passou eu abri os olhos,
não havia mais chuva,
e apesar das minhas roupas secas,
sobrava água por dentro.

(...)
resta-me agora escoar toda a água,
construir novos alicerces,
tirar o luto,
aquecer o corpo,
por que, quando a banda passar,
eu quero estar inteira, para, quem sabe,
ouvi-la cantando coisas de amor!

WDR

OURO DE VERDADE

DESCOBRI NA SEMANA PASSADA
QUE NAQUELA ESCADA FALTAVA UM DEGRAU,
QUE FALTAVA AQUELA PLACA QUE INDICAVA
O NOVO RUMO,
UMA NOVA DIREÇÃO,
MAS, AINDA ASSIM, TOMEI O RUMO CERTO,
ME CERQUEI SÓ DE MIM,
SEM NINGUÉM, SEM ESPREITAS,
SEM NENHUMA CULPA,
COM O PEITO ABERTO,
PARA O QUE VAI CHEGAR
DISSO QUE DEIXO PARTIR, ASSIM, SEM ME DESPEDIR!
E AOS POUCOS FOI ME DANDO UMA ALEGRIA,
UMA COISA NOVA,
A ENERGIA ERA OUTRA,
DANDO-ME A CERTEZA DO QUE ESTÁ POR VIR,
E SE EU ESCREVO AGORA SOBRE ESSA CERTEZA,
NASCIDA DO QUE HÁ DE PIOR NAS COISAS TRISTES-
TIPO AQUELA INDEFINIÇÃO,
AQUELA ESPERA QUE NÃO SE SABE NUNCA, AO CERTO,
SE ERA POR ALGUÉM OU ALGUMA COISA-
É POR QUE SEI QUE NO VAGAR DA CORRENTEZA,
O RIO DESÁGUA AQUI...
DESÁGUA AQUI,
NO MAR SERENO DAS COISAS QUE SINTO!
POR QUE, NO FINAL DAS CONTAS, ÀS VEZES,
O LUGAR COMUM QUE EMPURRA O RIO SEMPRE PARA O MAR
VIRA POESIA NO COTIDIANO DAS ILUSÕES PERDIDAS!
NÃO QUERO NÃO, A PLACA QUE NORTEIA O PRÓXIMO CAMINHO,
MAS POR FAVOR,
SE ALGUÉM SOUBER POR ONDE ANDA
AQUELE DEGRAU QUE ME FAZIA ENXERGAR
O QUE HAVIA DE MELHOR NO QUE EU SENTIA,
PEÇO QUE ME AVISE!
É QUE EU TENHO MEDO DE PERDER,
PARA SEMPRE, DE VISTA
TUDO AQUILO QUE GUARDEI
NO BAÚ ENVELHECIDO DA MINHA LEMBRANÇA,
COM O MAIS PURO VALOR,
COMO OURO DE VERDADE!

(Waleska Dacal Reis)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Colcha de retalho...

"Portanto, minha amiga Waleska...
lembre sempre, bem lembrado
para poder esquecer o que já foi esquecido!"
(João Dionísio)
Faço minhas as palavras do João e inicio Setembro a espera de flores, que venha, então, a primavera!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Um copo e meio...

Um copo e meio de saudade,

uma tristeza,

retratos seus sobrando pela casa,

vez por outra recordo o seu sorriso,

e o som gostoso da sua risada,

seu andar lento,

com um pervagar distante,

meio inacessível,

assim, meio displicente,

e o copo e meio de saudade

agora é água,

dessas que escorre dos olhos da gente.

Um copo e meio de tristeza,

uma saudade,

de você,

que se foi assim,

tão de repente!

transbordando

um copo e meio de saudade,

desse amor que é meu

e teu somente!


WDR

domingo, 27 de julho de 2008

Catalepsia


Escambo,

espelho,

câmbio,

moeda.

Aportou e trouxe na caravela sonhos,

que não eram meus.

Demarcou território,

explorando a boa fé nativa

propagou uma fé diversa,

silenciando o canto,

silenciando o canto.

Alastrou-se feito peste negra,

raiva,

tétano,

catalepsia,

imobilizando,cautelosamente, qualquer possibilidade de fuga,

e fez bom uso de tudo que estava ao alcance das mãos,

a credulidade,

a inocência,

qualquer gesto puro!

Num capricho qualquer de supra-humana vontade,

egoísmo,

desejo!

Contaminou a tribo, num mal qualquer de morte,

pensamentos maus, julgamentos fortes,

e depois, recolheu a nau e partiu,

simplesmente,

no mesmo silêncio com que aportara.

Escambo,

espelho,

câmbio,

moeda?

procuro, em vão, algo que justifique,

o valor real da estupidez humana!



WDR


" Inca, maia, pigmeu, minha tribo me perdeu"...(Chico César).

terça-feira, 22 de julho de 2008

Arca Encantada

"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!".

Refletiu-se em mim,
tenho certeza!
pela transparência das coisas que
em mim se anunciam,
e que só eu antevejo,
até depois, não muito depois,
quando já se tornou público e notório
no meu andar cabisbaixo!
Refletidamente,
no meu silêncio ressentido,
e nas mil e uma teorias
que provavelmente me deixarão atônita,
mil e uma noites,
e mais mil e uma noites!
Refletiu-se em mim como arca encantada
butija enterrada, repleta de ouro,
reluzente!
Tão claramente como coisa que não existe,
a não ser em conto de fadas!
Mas, se pôde ser visto, assim, em mim,
foi por que eu mesma desejei que assim
o fosse!

Não me cabem, pois, lamentações,
vociferações,
pragas,
sortilégios,
prévios julgamentos, nem a posteriori!
constatações ou maledicências!
Que me reste, apenas, uma lição disso tudo:
a de que nem sempre os clarins soam
anunciando uma nova aurora,
mas, todo coração que se preze
deve saber de cor o toque de retirada!

Waleska Dacal Reis


(...)"E ser, depois de vir do coração, o pó, o nada, o sonho dum momento!…São assim ocos, rudes, os meus versos..." (Florbela D'Alma da Conceição Espanca).

sábado, 19 de julho de 2008

FREQUÊNCIA

Eu não sei mais o que sinto,
nem sei por que choro olhando essas fotografias,
também não entendo essa falta de emoção que me invade,
quando você me liga, assim, de repente,
e diz que a minha voz está triste.
Não sei por onde anda o meu sorriso,
nem meus pensamentos,
não sei por onde anda meu desejo,
nem minha temperança,
só sei que o seu sorriso não tem preço,
que a sua voz ainda mora nos meus ouvidos,
e fica ecoando, insistindo,
mesmo no seu mais demorado silêncio.
Você diz que pensa muito em mim,
assim, tão naturalmente, como quem respira,
ou reconhece que sem água morreria de sede,
e meus olhos se fecham.
Contorno seu corpo com a lembrança,
ensaio um sorriso,
outro,
esboço qualquer ínfima alegria,
mas, o cansaço me vence.
Esqueça, por favor, a minha tristeza,
tenho dormido tão pouco ultimamente,
quem sabe se eu ajustar a minha frequência,
eu possa, revigorada, te encontrar, novamente,
nos meus sonhos.


Waleska Dacal


(...)"Se falo em mim e não em ti, é que nesse momento já me despedi, meu coração ateu não chora e não lembra, parte e vai-se embora!"
(Chico Buarque)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Avesso


Segundo os dados extra-oficiais da sua cabeça,
sou chata,
muito transparente,
sincera,
envolvente,
e me cabem, também, outros adjetivos que,
não sou tão incoerente a ponto de citar nessa lista.
Você reclama do meu silêncio,
você reclama das coisas que eu falo,
acha que eu sou muito sincera,
e reconhece que mentir não é meu ponto forte!
Mas, você se pergunta se ainda é meu ponto fraco,
vunerável,
mesmo de improviso...
Ah, quer saber?
Sei lá!
Ando tão pelo avesso ultimamente que,
algumas vezes, me olhando no espelho,
não me reconheço!
Sobram pedaço de mim e de ti,
espalhados pela sala,
pelo quarto,
na cozinha,
e nas paredes da minha lembrança,
mas, ficou alguma coisa tão confusa,
um misturar de vozes,
sotaques,
idiomas,
sonhos,
uma quilometragem e tanto
nos separando,
nos compelindo a reinventar vozes,
e vez por outra,
verdadeiros manifestos,
de ordem subjetiva, ou de contra-ordem,
puramente, circunstancial.
Sei que você entende até o que eu não digo,
por mais que, na maioria das vezes,
não se manisfeste e insista, assim,
em reinventar fugas
e outras saídas,
o que reforça essa certeza que eu tenho de que,
o que de fato nos separa,
é esse seu medo de enfrentar a vida!


(...)



"Amo tua voz, e tua cor"...




WDR.

domingo, 13 de julho de 2008

Mercúrio cromo

Deve passar bem rápido, se você deixar que assim o seja,

mas, para que isso aconteça, não será mais permitido que você conte as horas,

a ausência agora deverá ser contada não pelos dias, nem pelos silêncios,

mas pelas vontades todas, de partida e de chegada.

Nesse intermédio, é importante que sare qualquer arranhão novo ou antigo,

e em seguida se rasguem todas as fotografias que, porventura, ainda resistam amarelecidas pelo tempo, não dos momentos felizes, não isso não, mas das cicratizes que sobreviveram a esses machucados todos, e que se jogue fora o mercúrio cromo

e todas as outras coisas que não mais existem, e que fingem não doer, mas doem!

Em contrapartida, é necessário também não caminhar contra o vento, pra quê medir forças com quem está vencendo?

Mais sábio mesmo é esperar pelo tempo que inevitavelmente chegará a trem ou a cavalo, implacável.

Como não podia deixar de ser também,

é importante aprender novas canções, ler outros escritores, se abrir pra qualquer possibilidade de encontro com o novo, que assim como o tempo, nunca deixa de chegar!

É isso mesmo, nada de velhas canções tatuadas na lembrança, nada de cheiros e sabores que já se conhecem de cor, agora é desocupar as gavetas da memória e apostar no futuro, que, por hora, até pode parecer inacessível.

Uma última coisa, é preciso antes de tudo que você acredite nisso tudo, como palavras repetidas ao espelho e que ecoam no mais intimo de você, como num livro qualquer de auto-ajuda, grifado página por página, nas coincidências, evidências e sincronicidades que sempre é possível encontrar com a dor de um outro alguém,

agora, vê se preciso repetir isso tudo?

você anda tão calado ultimamente,

(...)

velho,

cansado,

e descrente!

Estamos entendidos?

Quer saber, coração burro?

Desculpe, mas cansei de ouvir você!



WDR

sexta-feira, 11 de julho de 2008

TRILHAS



Um passo após outro,
sol forte,
ou chuva fina,
ora calor,
ora frieza,
uma ribanceira abaixo,
outra acima,
e no meio da sede um copo d'água,
na eminência qualquer de algum sorriso!
silêncio, não por falta de palavras,
por que é preciso!
E na contemplação distante dessa natureza,
ainda não tocada e tão restritiva,
vou ensaiando trilhas,
longas caminhadas,
algumas subidas,
algumas descidas,
sem nenhum guia,
nenhuma certeza,
um súbito encantamento,
uma esperança,
de que lá no fim tenha alguma cachoeira,
deve ter, por que já tem um tempo
que eu ouço um barulho de água correndo aqui dentro!

Waleska Dacal

domingo, 29 de junho de 2008

Torneira

Deixa escapolir qualquer palavra,
do véu transparente do silêncio,
Deixa que o desejo se declare,
cada coisa a seu tempo!
Deixa que o medo atrapalhe,
ensaiando fugas e outras saídas,
Deixa que a vida se revele
e mostre o que é vida!
Deixa qualquer coisa inacabada,
inexplicada e rota,
Deixa escondido a sete chaves,
qualquer desejo atrás da porta,
Deixa como a torneira, que pingando
um dia transborda,
Deixa, ensaiando, improvisando,
finja que não nota!
Deixa qualquer sonho bom
como aquela sujeirinha embaixo do tapete!
Deixa e espera que, com o tempo, tudo se ajeite!


...Só não diga depois, que não entendeu,
que não viveu, e que lamenta,
pois cada um sabe a dor que o governa
e quem não sabe esquecer, AO MENOS TENTA!

Waleska Dacal Reis

"Ah, Dinorah, Dinorah!!!"
(Ivan Lins)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

ESTIAGEM!!!!



..."O que me mata é o cotidiano. Eu queria só exceções."(Clarice Lispector)


Folhas,
computadores,
o barulho do ar condicionado gelando a pequena sala(acho que ele precisa de manutenção!)
A voz do Renato Russo no som ambiente repetindo:

"muitos se perderam no caminho"...

e eu aqui, de volta a realidade,
às coisas cotidianas,
o ar-rarefeito da minha razão emancipada - quanta pretensão a minha, por falta de controle da razão, dizê-la emancipada!
Hoje, essa garoa caindo lá fora provocou um frio tão grande na minha alma, que senti falta
de alguma emoção,
algum sofrer,
algum querer demasiado,
alguém ou alguma coisa.
Mas, por hoje, certeza apenas de que tanto fez,
tanto faz!
Minha aquarela está desbotada,
já não tem o mesmo tom a minha poesia,
que agora se reune assim, esforçadamente, com frases cortadas.
Há quem ache que é estilo,
eu, digo que é estiagem!
Deu um trabalho imenso escoar toda essa água que tinha aqui dentro,
mas, já estou deserta novamente,
pronta para a próxima semeadura,
que, tenho esperanças, dará bons frutos...
(...)

escapolem dos meus dedos essas palavras,
não estou alegre,
nem triste,
apenas sinto frio e falta de algo que me aqueça...



Bom!Vou atrás de um café, meu vício dileto de todos os dias. Fui!

W.D.R
(25.06.08) numa manhã cinza de quarta-feira!





domingo, 8 de junho de 2008

Constatação!

Te amo, por que te amo, se não te amasse, ainda assim te amaria.
Te amo por que no meu silêncio é tua voz que escuto a pronunciar, demoradamente, o meu nome.
Te amo porque na imensidão das coisas, tudo diz teu nome e te faz presente.
E por que, como se não bastasse, tudo se aproxima de ti enquanto te distancias.
Te amo pela sofreguidão que causas, pelas coisas que anuncias.
Te amo pelo teu apreço e pelo teu semblante, irmão do meu!
Te amo, pelo que não dizes e por que se o disseres, te amarei mais ainda.
E te amo até pelo teu medo, ao descobrir que eu ainda te pertenço.
Te amo, mais que amei outrora, mais que amarei um dia, mais que ainda amo.
Te amo e se tu não sabes é por que não digo, não deves saber!
Te amo por que, no silêncio, é a tua alma que procura a minha.

Te amo, não mais que te amo, por que sei que assim é que deve ser!!!!

WDR

...agora durma com uma zoada dessa!!!

domingo, 1 de junho de 2008

A MOÇA...

ele ama adorar a moça
e a moça não é a moça
é adorar a moça

um pedestal que se põe dentro de casa
a imagem resplandecente
da moça que não é a moça

amar, além, a moça

(MS calango)

sábado, 31 de maio de 2008

"Que importa falarmos tanto? Apenas repetiremos."

Thiago de Mello.

Parada obrigatória para as minhas constantes reflexões sobre a importância do silêncio...
tenho pensado tanto a esse respeito ultimamente, que penso estar com algum transtorno obsessivo-compulsivo.
Mas, nas lacunas que vão se amontoando entre um silêncio e outro, dia após dia, vou colecionando palavras,
dentro de mim,
ao meu redor,
sob e a respeito de coisas,
situações e pessoas,
situações e pessoas,
situações e pessoas.
Há pessoas que merecem nossas melhores palavras,
as que vêm naturalmente da alma, desarmadas, algumas vezes brutas, por que palavras polidas, serão sempre palavras pensadas, estudadas, compelidas.
Há pessoas que merecem nossas piores palavras, de desprezo, de fúria, de indignação, de desrespeito até, de menosprezo.
Há pessoas que nos deixam sem palavras, sem compreensão alguma do que, de fato, elas representam para nós e do real lugar que elas ocupam nas nossas vidas.
E, há aquelas, que se pudéssemos repeteríamos muitas e muitas vezes, insistentemente, o quando elas nos são imprescindíveis, o quanto elas nos fazem falta, o quanto nos são caras e o quanto as amamos, a despeito de... e apesar de...
Entretanto, há aquelas pessoas que, ao olharmos mais atentamente, demoradamente, perceberemos que não merecem nada mais que o nosso precioso silêncio, digo precioso por que sei o quanto é difícil fazer um voto de silêncio quando se têm uma dúzia de perguntas, todas sem respostas.
Bom, a casa da moeda deveria fazer do silêncio uma moeda forte...
metal de valor crescente, ascendente, investimento seguro para pessoas cautelosas e mais ainda para os desavisados, aqueles tantos que, assim como eu, estão aprendendo, a duras penas,
que diante de fatos e de evidências, o melhor a fazer é permanecer calado.Por que o tempo é mesmo a melhor resposta para todas as coisas!

WDR


Arroz de festa!

Ando numa daquelas fases minhas de reflexão profunda, tenho lembrado muito da minha mãe também, das palavras insistentemente repetidas pela experiência de vida dela, e pelos relatos ouvidos de outras experiências tantas!
Tenho avaliado, silenciosamente, as atitudes de pessoas que me são caras, não na tentativa de julgá-las, ou sentenciá-las, mas para oferecer a minha bússola interior um novo sentido de orientação, e quem sabe assim silenciar as vozes internas que me infernizam pedindo que eu não seja tão crente, tão aberta, tão verborrágica em relação as coisas que sinto. Então, tenho dedicado boa parte do meu tempo, que já é tão curto, a silenciar essas vozes.
Gosto de escutar meus amigos, sempre aprendo muito com as vivências deles e por dias seguidos não me sai da cabeça a voz do João me dizendo que os amigos, amigos mesmo, que ele têm hoje, ele chega a contar numa única mão...
Tenho emudecido tanta coisa, diante da constatação de outras tantas, mas talvez pelo cansaço experimentado com a própria vida, ou pela minha limitada paciência, só sei que não estou mais disposta a perder meu tempo com amizade arroz de festa, digo, aquele tipo de amigo que só serve para as ocasiões figurativas, os bons momentos, ou outras situações sem muita importância.
Quero amigos que confiem em mim além do meu riso bobo e quase constante, além das besteiras que eu falo quando estou com o meu humor em alta, quero amigos que confiem em mim e dividam comigo suas alegrias na certeza de que o meu coração irá vibrar com eles, sem o receio de que eu possa sentir inveja da sua felicidade, ou ainda que confiem em mim pra desabafar as suas dores na certeza de que eu também ficarei triste, verdadeiramente triste!
Quero amigos que amem o amor que eu sinto por acreditarem que esse amor me é importante, ainda que achem que eu poderia encontrar algo melhor, mas que não roubem a minha esperança, nem o meu sonho, nem o direito que eu tenho de descobrir sozinha, se estou ou não enganada acerca desse amor, e que depois possam me acalentar quando a pancada for muito grande, pelo simples fato de ficar ao meu lado, e não me digam em hipótese alguma: "eu não disse?" mas seja enfático em repetir: "Vai passar, estou aqui!!!"
Ouvi algo semelhante recentemente do João: ao falarmos sobre essas coisas do coração, e dividindo com ele as minhas inquietações os meus sentimentos, ele disse:
"Waleska, eu não concordo, mas se você acredita nisso, viva!Se você se machucar eu estarei aqui pra lhe dar colo e lhe ouvir!"
Quero amigos que lembrem de mim ao ver o sol nascer, ao ver o sol se pôr, e digam a si mesmos: "Waleska adoraria ver isso!"
Quero amigos que acreditem, realmente, que sou amiga e que podem contar comigo sem reservas e que jamais precisem me procurar pra saber o que aconteceu quando eu resolver me afastar em silêncio, no mais absoluto silêncio, pois, se isso acontecer, eles têm que, pelo menos, me conhecer o suficiente para entender que eu percebi que a amizade que julguei verdadeira não passou de um engano...e ai, já não há mais nada a fazer!
Waleska Dacal
"Eu bato o portão sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade, uma saideira, muita saudade e a leve impressão de que já vou tarde!"

sábado, 24 de maio de 2008

VAGAS VOZES!

Já se tornou um vício escrever, a abstinência causada pela ausência desse ato provoca em mim sensações torpes e inquietantes, um monte de palavras soltas vão se juntando em cada canto ocioso meu, por dentro e por fora, e vão deteriorando o meu sorriso...tenho escutado vozes!
Uma minha interior e sarcástica,
outra sua, amendrontada e covarde,
ou seria justamente, dentre elas, a mais corajosa de todas, por se manter calada na vaguidez das coisas?
Sinto coisas que um álcool forte não sossega, nenhum barbitúrico ou tranquilizante. Afago uma xícara de café, na esperança de encontrar algum calor humano, e o cheiro forte, o gosto amargo e lento, ensaia alguma forma dentro de mim e me alerta:
Tenho andado tão dispersa ultimamente!Sua proximidade me desconcentra, "so far, so close", inatingível, desejável, intransponível, proibida!
De alguma forma, e seguindo alguma lógica que eu justifico, mas não compreendo, sinto que seguimos paralelamente caminhos tão parecidos, cheios de desejo, curiosidade, vontade, vontade mesmo, daquela de tirar o fôlego! Eu não sei quanto a você, mas isso me faz rir!Rir não de mim, nem de você, mas da grande ironia que é ter que esperar pelo tempo. Esperar que ele coloque os seus dedos mágicos e defina isso que não consigo controlar, e que foi tomando conta das nossas palavras, ditas e não ditas, sufocando, inquietando, intumescendo!
Que nos reste, então, além dessas palavras que lhe dedico, e que podem ser facilmente cooptadas pela sua curiosidade -basta você vir aqui - a certeza de que só de pensar em você me falta o ar, me sobram palavras, que vou amontoando aqui, amorfamente, tirando a minha roupa pra você, nesse espaço eletrônico, permitindo que você me vasculhe, mentalmente, através dessa vitrine virtual, aceitando o que não entendo, me subscrevendo, me resignando, me fortalecendo, até que tudo isso, um dia, em nossas mentes soe como vagas vozes!!!E tenho dito.
Waleska Dacal

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Lygia Reinach e Marilene

Sei não, têm coisas que, sinceramente, eu não consigo não escrever nesse blog, seria imperdoável! A de hoje, vem da Marilene, ela nunca mais tinha dito uma digna de ser postada aqui, mas lá vai...
então estávamos eu, Lizi e Mari, lá na casa dela, assistindo um documentário sobre a escultora Lygia Reinach, quem já teve a oportunidade de vê-la trabalhando sabe como as suas obras são maravilhosas, eu mesma assistindo ao tal documentário, fiquei encantada. Lygia começou a trabalhar com cerâmica apenas aos 46 anos, e utilizando o barro como matéria-prima de suas esculturas, vem desenvolvendo projetos de grande porte voltados à ocupação de espaços urbanos. Revelação Escultura em 1988, foi convidada, em 1999, como representante da América Latina na Bienal de Cerâmica de Tóquio, indicada por Nelson Aguilar, após a realizar instalação no Museu Brasileiro de Esculturas - MuBE.
Diante de tanta beleza estávamos num silêncio quase de morte, quando, de repente, a Marilene se sai com a pérola do dia:
"sei não, Meu Deus, brinquei tanto com barro, e não me descobri!"
Acreditem, vocês, isso no contexto vivido, foi engraçadíssimo!Rimos com gosto!
Vale a pena conferir um pouco mais sobre a Lygia Reinach.Maravilhosa!
WDR

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Simplesmente gatos...

Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso...nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis. Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo? Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso."Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser. O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio e espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer.Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige. Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês. Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência.Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes)impulsos secretos de agressão, o gato sabe.E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver.Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado.É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode(ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós).Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo.É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber. Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências.Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga.Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo ( quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo.Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal.Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular.Lição de salto.Lição de silêncio.Lição de descanso.Lição de introversão.Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra.Lição de religiosidade sem ícones.Lição de alimentação e requinte.Lição de bom gosto e senso de oportunidade.Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências. O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem."
Ode ao gato - Artur da Tavola

Nova ordem


Hoje amanheci desperta, insone!
Dias e mais dias sem sair de casa, tô deprimida!
"Chove lá fora e aqui faz tanto frio"...
Fico improvisando algo que me anime,
mas fica sempre a sensação de esboço mal acabado.
A casa inteira para arrumar seria um bom começo,
mas tô tão sem energia!
Tudo o que eu mais quero nesse momento é que a Wanina fique boa!
Essa parte da maternidade eu ainda não consigo assimilar muito bem,
ficar vendo o meu bebezão tossindo, tossindo, abatida.
olho pras paredes do apartamento, elas silenciosamente olham para mim também,
tomo meu café, gênero de primeira necessidade,
olho pra minha estante, meus livros que eu amo, outros objetos que eu tolero
e alguma coisa nessa cena que vejo me lembra umas fotos que vi do escritório de Ferreira Gullar,
tem uma familiaridade, não sei se pela bagunça constante, sinal evidente de que os livros que lá se encontram são realmente lidos e relidos, sim, por que uma estante toda arrumada é no mínimo estranha, me dá a sensação de que os livros que lá estão dormem profundamente, encantados pelo tempo!
Não sei, se pelos fortes indícios de que há gatos na casa, as vasilhas pelo chão com leite, ração água, não sei se pela foto mesmo do Ferreira, ensimesmado, taciturno, não sei!
Só sei que ando procurando em tudo a poesia, o gosto pela fala, e até pelas coisas não proferidas.
Tenho, frequentemente, revisitado a dor, na tentativa de compreendê-la, passo horas observando-a, nas suas mais diferentes nuances, ora em mim, ora nos que estão a minha volta, e costumo observar esse fenômeno oscilante que sempre antecede e sucede a alegria, moldando novos vincos no que se diz humano, não sei, não sei!
Ao que tudo indica vou passar o dia hoje filosofando, meu Deus, eu penso demais! O ministério da Saúde devia lançar uma campanha de ampla divulgação: PENSAR É PREJUDICIAL À SAÚDE!
E, enquanto eu não me encontro, nem me subscrevo dando uma nova ordem a esse novo dia, vou ler um pouco de Ferreira Gullar, tomar mais café, acariciar um gato, depois outro gato, e mais outro e outro e outro! Esperar que o meu bebê acorde, fazer a comida da minha tartaruga, que agora aprendeu (sabidinha ela!), toda vez que está com fome vem morder o meu pé!
e vou ficar por aqui, quem sabe tentando convencer aos que dizem que eu sou um tanto excêntrica, de que sou uma pessoa comum, cheia de desejos comuns, agraciada com amigos incomuns e com uma capacidade de sentir compatível com a minha, caso contrário não seriam meus amigos, e vou brindar a Gullar, com uma caneca de café, e tenho dito!

Waleska Dacal




Do mesmo modo que te abriste à alegria

Abre-te agora ao sofrimento

que é fruto dela e seu avesso ardente.
Do mesmo modo que da alegria foste ao fundo

e te perdeste nela e te achaste nessa perda

deixa que a dor se exerça agora sem mentiras

nem desculpas e em tua carne vaporize toda ilusão
que a vida só consome o que a alimenta.

(Aprendizado- Ferreira Gullar)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Saúde, mamãe!

Dias e mais dias em casa, fico deprimida!
Wanina com febre, desde a semana passada, 39 graus, muita coisa!
Então, reensaio a minha via crucis de médico, remédio com hora marcada, nebulização e mil e um argumentos para convencê-la a se alimentar direito!Chega uma hora que cansa!
Ontem, depois de auscultá-la por alguns minutos, a médica solicitou um raio X dos pulmões, suspeita de pneumonia, putz, fiquei passada! Então, hoje, pela manhã, tratei logo de providenciar o tal exame, e mais, muito mais, jogo de cintura para convencê-la a ficar sentadinha, na paz, só de fraldinha, para que o tal raio X fosse realizado...haja paciência!
Acho que pisei em rastro de corno!
pra completar, ontem levei uma queda, mas não foi assim uma quedinha, foi uma QUEDA da porra!Lasquei a nuca na quina de uma mesa de vidro que furou!!Foi uma dor tão grande que eu pensei que ia morrer, resultado: não aguento nem tocar na cabeça! A médica falou que mais um pouco seria fatal. FATAL????MORRER????Credo!
Tava agora contando para o João e para a Ivanoska pelo MSN, o João tratou logo de dizer que eu não fosse dormir!!!Pô, mas a queda foi ontem, e eu já dormi, aliás estou caindo de sono, gripando também, graças a essa relação simbiótica minha e da Wanininha, e por falar nela, quando estávamos voltando do hospital Artur Ramos, lá pras tantas, eu espirrei, mas pude ouvir nitidamente aquela vozinha linda dela dizer: "saúde, mamãe!!!"(rs)
Minha gente, vou colocar comida pra minha tartaruga que está aqui mordendo o meu pé e vou dormir pra me recompor dos últimos capítulos dessa novela que é a minha vida.E esperar por dias melhores.Sei que eles virão!
Fui!

WDR

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Um pouco de Pessoa...

A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor!Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perene
Sombra errarás absurda,
buscando o que não deste.
In: Fernando Pessoa-Poesia completa de Ricardo Reis

Respondendo à pergunta da Lizianne...


Eu não costumo escrever sobre coisas alegres,
coisas alegres são banais
e tudo que é banal me cansa!

WDR

Quisera

Quisera ter sentimento pra resgatar a poesia,
quisera, talvez tormento,
quisera, quem sabe, alegria!
Uma dose qualquer de esperança,
um trago qualquer de saudade,
algo forte e inquietante:
dor, desejo, ou vontade.
Mas, no cotidiano das coisas
adiadas e não vividas,
foi deixando adormecer as palavras,
mesmo as que não foram ditas.

Waleska Dacal

terça-feira, 6 de maio de 2008

Mais do Mesmo!

Mais do mesmo!!!!
Então, lá chego eu em casa, Wanina com febre, dei o remedinho dela, deixei ela descansando e fui crente de que ia dar uma geral nas coisas, para deixar a casa em ordem, fazer um café gostoso para comer com bolo de fubá, e relaxar. Pois, pois!
então, no que eu estava me preparando para essa minha rotina de dona de casa, aparecem umas 8 crianças na janela da sala:
- Tia, olhe o que a gente achou ali, cuida, vá! cuida pra gente, ninguém quer cuidar!
De imediato, eu pensei que era um rato branco, muito pequeno, pelado!Depois vi mais dois, e entendi eram três gatinhos, de uns dois dias de nascidos, com cordão umbilical e tudo...Ai meu Deus!Mais do mesmo!!!!Tentei me esquivar:
- Mas minha gente, eu tenho 5 gatos...
-Mas tia, mandaram até jogar no lixo, colocar na rua, e eles estavam na pista iam morrer!
-Tá bom, me dê eles que eu cuido!!!!
e haja grito e mais grito de alegria e aquelas vozes fininhas: "tá vendo, eu não disse!!!!"
Tô arrumada com essas crianças da vizinhança!
Meu Deus, já vi muita coisa sinistra com os animais de rua que recolho ou que chegam até mim, trazidos por esses anjinhos pra eu cuidar, mas como esses três bebês eu nunca vi!!!
Por algum motivo, a mãe os abandonou sem limpá-los direito, e por causa do resto de planceta foi criando bicho, isso mesmo, pequenos vermes, que, seguramente, iriam devorá-los vivos, semelhantemente a um tortura chinesa.Credo!Restou-me, então, uma medida extrema:
banho!Isso mesmo! Um bom banho com água morna e sabão de côco, seguido de álcool no umbigo, e uma toalha quentinha, leite com vitamina C e uma caixinha bem aquecida, além, é claro de palavras doces, mas fortes, de encorajamento, de ânimo e de esperança! Como não podia deixar de ser, comecei a fazer prece, pra aguentar a tarefa árdua...teve uns momentos que eu pensei que ia ter um negócio, um troço mesmo, mas dei conta do recado.
resultado: estão todos dormindo, estressados de tanta agonia, mas tendo uma segunda chance.
E eu com a minha consciência tranquila, em paz mesmo.
Em momentos assim eu penso em meu pai, com ele eu agucei essa minha paixão por bichos, por natureza, por mato!Se ele estivesse hoje em meu lugar, tenho certeza de que, na primeira oportunidade, me ligaria e diria: "Lêka, achei três gatinhos!Tô cuidando deles, são lindos!"
Bom, espero que onde quer que o meu pai esteja nesse momento, ele mande boas vibrações pra nós aqui, pra ajudar os gatinhos, pra que eles resistam, pra que essa história tenha um final bem feliz. E espero, também, que ele possa sentir o quanto é grande essa saudade que ele deixou!
(...)É, por hoje já deu!Vou cuidar da minha Wan, que também tá precisando muito dos meus cuidados!
Fui!
Waleska Dacal

domingo, 4 de maio de 2008

(...)

Depois da noite longa que separa um dia, do outro dia,
eu estanquei o sangue e a poesia,

(...)é, isso é bom!

Waleska.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Hoje eu recebi um e-mail da Érika com a versão do Frejat para este poema do Victor Hugo, que vale ser colocado aqui, valeu, chuchu!Beijo grande.

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,

Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que,
algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles,
haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco,
porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e
o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo,
que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes,
e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco
e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,

Por ele e por você,
Mas que se morrer,
você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".

(Victor Hugo)

Por hoje, querido diário, está de bom tamanho!